De hoje até à próxima terça-feira o Carro Gitinho estará colocando no ar uma série de postagens especiais de final de ano, pois a partir de 1.º de janeiro entraremos de recesso. Então vamos logo começar com uma bomba!!! Entenda porque: a primeira entrevista feita pelo Carro Gitinho foi um sucesso, muito por conta da importância do entrevistado, no caso o projetista Mark Jones (leia
aqui). Ainda fizemos outra, dentro da seção Mundo Hot Wheels, com o artista plástico norte-americano Kevin Champeny acerca seu mosaico feito com 4400 Hot Wheels (que você pode ler clicando
aqui). Ou seja, só gente de peso! Por isso a nova entrevista é com Douglas Fernandes, um paulista de 41 anos formado em Ciências da Computação e hoje trabalhando na área de RH. Quem não pertence ao mundo do colecionismo pode se perguntar "mas quem é esse cara?". Esse cara se chama Douglas Fernandes e foi ele quem criou em 2009 o blog que hoje é uma leitura obrigatória para quem coleciona miniaturas, o T-Hunted!. Douglas atendeu ao nosso pedido para uma pequena entrevista e desde já agradecemos a sua gentileza, demonstrada por várias vezes quando lhe pedimos um espaço no T-Hunted! para divulgar alguma postagem especial do Carro Gitinho. Acompanhe:
Quando surgiu a ideia de fazer um blog dedicado à miniaturas de carros e especialmente sobre Hot Wheels? Você é colecionador?
Como quase todo mundo, eu adorava ganhar os Matchbox quando criança, e isso era raro na época, já que eles não eram tão baratos e abundantes como os Hot Wheels de hoje. O tempo passou e em 2006/2007 eu estava passando por um grande stress profissional, e precisava muito de um hobby. Eu adoro carros, e sempre achei que os Hot Wheels exageravam nos carrinhos, até que comecei a achar algumas miniaturas um pouco mais fiéis aos carros reais. Comecei a comprar e fui fazendo a minha coleção, e saí correndo atrás de informação. Infelizmente não havia muita informação sobre quais modelos ou quais séries chegavam aqui no Brasil, ou indicações de onde comprar. Havia apenas um excelente blog, o "1 por 64" do meu amigo Everton e poucos fóruns. Criei o T-Hunted! em um momento em que fiquei desempregado e precisava urgentemente de algo para ocupar a minha cabeça. E resolvi justamente escrever sobre a informação que eu não achava em lugar nenhum. Não dá pra deixar de escrever sobre Hot Wheels, afinal eles são mais fáceis de encontrar por aqui, são mais baratos, e geram muito mais notícias do que outras marcas, mas mesmo assim sempre tento mostrar as novidades de todas as marcas. Ainda coleciono hoje, mas com muito menos frequência do que no passado.
Quando você percebeu que o T-Hunted! era um sucesso? Sei que seu trabalho é sério, mas você esperava tanto?
Pra ser muito sincero com você, eu jamais imaginei que o T-Hunted! seria um sucesso. Não o criei pensando nisso, e nunca o direcionei para este caminho, e acredito que é por isso mesmo que ele é um sucesso hoje, já que nunca criei expectativas com ele e sempre fiz esse trabalho com muito amor e dedicação. As coisas simplesmente foram acontecendo, e eu sempre tentei usar do máximo de bom senso pra trazer a melhor informação para os leitores. Acho que comecei a notar que ele era um sucesso quando vi que tinha muitos visitantes, que ele atraia a atenção de lojistas, da Mattel e de colecionadores ao redor do mundo. Hoje em dia ele é assunto de revistas, jornais, de TVs, e de muita gente pelo mundo. Até ser reconhecido na rua eu já fui! Isso é muito legal, e me deixa feliz de saber que eu devo estar fazendo algo certo para que ele seja o que é hoje. Mas não acho que isso me faz ser uma pessoa melhor do que as outras… é apenas um blog sobre carrinhos, só isso.
Hoje o T-Hunted! é uma referência mundial sobre Hot Wheels, com milhares de visitas todos os meses. Mas o que me chama atenção é a quantidade de comentários. A partir disso é possível traçar um perfil dos leitores?
Os colecionadores passaram a se comunicar de uma forma diferente nos últimos anos aqui no Brasil: quando eu comecei o blog, as pessoas se informavam e trocavam informações em fóruns de clubes ou no Orkut. Hoje alguns desses fóruns sumiram ou andam muito pouco frequentados, com exceção do CHWB e do MM. As pessoas se comunicam hoje pelo Facebook e alguns dos colecionadores resolveram usar o T-Hunted! como espaço para tirar suas dúvidas ou discutir sobre algum tema. O que eu noto dos leitores é que eles estão cada vez mais ansiosos pela informação e cada vez mais atentos. É uma responsabilidade muito grande a que eu tenho de dar a informação correta e não me posicionar de modo a influenciar a opinião das pessoas: prefiro ser isento e deixar que os leitores julguem o que é melhor ou pior. Minha função é apenas colocar a informação de forma clara e correta.
Como você lida com as polêmicas que de vez em quando pipocam nos comentários?Toda polêmica faz bem para um veículo de informação, já que gera discussão e muitas visitas. Mas se você começar a polemizar muito, você afugenta os leitores. Eu tento não me meter muito nas discussões, mas às vezes tenho de intervir quando a coisa sai do controle e as pessoas ofendem uns aos outros ou colocam em dúvida a posição do blog. Não dá pra aceitar xingamentos e ofensas em um veículo de informação que tem uma grande audiência de pessoas que não merecem ler esse tipo de coisa. Infelizmente o maior número de comentários aparece em matérias sobre T-Hunts ou preços de miniaturas, e não quando há uma matéria que mostra uma miniatura bonita ou algum evento legal.
E sua relação com a Mattel? Às vezes rolou uns lances estilo filme de suspense com a empresa até ameaçando com processo. Como foi isso?
Eu e a Mattel vivemos um romance cheio de altos e baixos. O T-Hunted! foi o único veículo de informação que entrevistou a Mattel do Brasil, e que também entrevistou um membro da equipe da Mattel EUA. Cheguei a colaborar com a Mattel do Brasil em alguns projetos que foram abortados e depois não nos falamos mais. Depois disso eu comecei a mostrar no blog algumas miniaturas da Hot Wheels que eles não queriam mostrar naquele instante, como as minis da convenção de Los Angeles e do Brasil de 2010, e depois com a Brasilia, o Opala e o Dodge Viper 2013. Exigiram saber quais eram as minhas fontes e eu nunca falei. Também ameaçaram me processar e fechar o blog, mas isso eles não podem fazer já que seria uma censura ao meu direito de informar. O que eles deveriam fazer na verdade era me agradecer, já que gero publicidade gratuita pra eles e atinjo mais de 300 mil pessoas no mundo por mês. Mas infelizmente as coisas não são assim, e o pessoal da Mattel do Brasil nem responde mais os meus emails. Uma pena.
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Douglas Fernandes e o projetista Phil Riehlman |
Uma das coisas mais importantes num veículo informativo são as fontes. E as do T-Hunted! são quentíssimas! Nos fale um pouco mais sobre sua relação com elas.
Uma das coisas que sempre me recusei foi fazer o trabalho fácil de apenas pegar uma informação oficial, traduzir e colar no blog como vejo muita gente fazendo. O T-Hunted! vai atrás da informação que interessa pro leitor: vou na Semaan pessoalmente fotografar os lotes que chegam, afinal isso é algo que o leitor quer ver, assim como mostro em primeira mão a foto daquele carro que todos estão curiosos pra ver. Ao mesmo tempo que isso é um prazer pra mim, não é uma tarefa fácil. Ter informação em primeira mão significa que você precisa conquistar o respeito, a exclusividade e a confiança dessas fontes. Para conseguir fotos inéditas do Opala ou da Brasilia, me custou dias de conversas, de negociações e de garantias de que a fonte seria preservada. Não é um trabalho fácil, e poucas pessoas tem noção do quanto tenho que me empenhar para mostrar ao mundo aquilo que todos querem ver.
Uma coisa que percebi nos comentários - sou um leitor assíduo do blog - foi que há quase um senso comum com relação à [má] postura da Mattel com relação aos colecionadores brasileiros. Você acha que é isso mesmo?
A Mattel se esforçou para agradar ao colecionador brasileiro entre 2008 e 2010 realizando convenções e criando sites específicos. Mas depois de várias pisadas na bola, eles simplesmente abriram mão do colecionador, e agora me parece que ensaiam uma aproximação com esse público. Concordo que tem muita coisa errada com relação a divulgação, distribuição e importação de séries colecionáveis, e também com a não importação dos Matchbox. Mas temos que entender que Hot Wheels e Matchbox são apenas duas marcas da Mattel (as quais tem dado prejuízo nos últimos tempos) e que seu público principal são as crianças (aqui no Brasil as crianças correspondem a 80% do mercado da Hot Wheels). Então nem adianta reclamar que algumas miniaturas são mais infantis ou que não se encontram série adultas por aí. Enquanto a cabeça da Mattel do Brasil não mudar, teremos esse cenário, e algo me diz que isso não vai mudar com a velocidade que gostaríamos.
Você acha que as medidas polêmicas tomadas pela Mattel como o fim do Red Line Club e das convenções brasileiras e o aumento de preço dos carrinhos básicos pode realmente afetar a venda dos Hot Wheels? Isso pode parecer óbvio num primeiro momento, mas as gôndolas estão sempre vazias e a busca por novidades é intensa, basta olhar o contador de visitas do T-Hunted! Isso é possível de ser explicado?
O número de visitantes do T-Hunted! cresce numa média de 10% todo mês, sendo que 30% das visitas é de fora do Brasil. Não sei quando o blog vai parar de crescer, mas imagino que uma hora esse número estabilize, afinal o que se vê no mercado é um movimento inverso: a Mattel está em uma terrível crise, os lojistas reclamam que Hot Wheels não dá lucro e os colecionadores querem coisas que a Mattel não lhes dá. Apesar disso, vemos muita gente se interessando mais por outras marcas e por outros segmentos de coleções (carros nacionais por exemplo). A melhora na economia brasileira também trouxe para as lojas muita gente que agora pode colecionar, já que tem mais dinheiro para comprar miniaturas, apesar do aumento, e isso explica em parte porque as gôndolas andam mais vazias. Acho que se a Mattel fizesse um trabalho legal por aqui, ela só teria a ganhar, como temos visto o excelente trabalho da California Toys trazendo para o Brasil marcas como M2, Greenlight, Johnny Lightning entre outras.
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Douglas e uma de suas maiores descobertas: o customizador venezuelano Guillo, que faz robôs a partir de Hot Wheels. |
O que você acha do movimento contra os atravessadores, ou seja, pessoas que caçam os carrinhos considerados "difíceis de achar" para os revender a preços absurdos? Acho que é consenso que essa é uma prática deplorável, mas que acaba afetando a relação com os patrocinadores do blog. Como você lida com isso?
O T-Hunted! mostra o mercado de miniaturas como ele é, e mostra as opiniões dos fabricantes, lojistas, distribuidores e colecionadores de uma forma democrática. O T-Hunted !presta um serviço inédito para o colecionador: dá a ele várias opções de onde comprar aqui e no exterior, em várias faixas de preços e com vários modelos diferentes de miniaturas. Mostra também o momento exato em que algumas dessas lojas recebem novidades. Ou seja, o T-Hunted! informa, mas não obriga ninguém a comprar nessas lojas. Quem decide se o preço está caro ou barato é o colecionador, e é ele que deve ou não comprar o que quiser. Eu acho que enquanto houver pessoas dispostas a pagar 10 vezes o valor de uma miniatura, terá gente disposta a vender, e assim será até que as pessoas decidam não pagar mais caro. Eu sou como uma rede de TV ou um jornal ou uma revista: mostro as opções de lojas, mas quem decide se compra ou não é o leitor.
É possível traçar um perfil do colecionador brasileiro? Quais as perspectivas que nós podemos esperar para o futuro do hobby?
Hoje me parece que podemos dividir os colecionadores em dois grupos predominantes: o colecionador antigo que se encheu de Hot Wheels e que migrou para outras marcas (mas que ainda compra um ou outro Hot Wheels), e o novo colecionador que só corre atrás dos "filés" (T-Hunts, minis mais desejadas, etc), porque acha que colecionar é só procurar o que é mais difícil, e assim achar que conquistou algum tipo de prêmio. Alguns desses novos colecionadores vão parar de colecionar em breve, já que não tem necessariamente aquele amor pelas miniaturas e só querem um prazer momentâneo. Alguns dos colecionadores antigos vão voltar a colecionar Hot Wheels se a qualidade melhorar. E teremos sempre um grupo de pessoas que vê isso como um hobby saudável, que é barato de manter e muito prazeroso se deixarmos de lado os problemas e as "picuinhas". Pra todos esses o T-Hunted! estará sempre disposto a entregar a melhor informação possível para que o espírito deste hobby não morra e sempre seja algo muito legal e saudável. Eu espero que os próximos anos tragam produtos melhores, mais acessíveis e que as pessoas possam ser mais felizes colecionando carrinhos!