Quem acompanha o blog sabe que as sextas-feiras são dedicadas a modelos que considero especiais como, por exemplo, raridades ou integrantes de séries pouco comuns. Sendo assim, porque hoje a postagem é sobre a mainline? Isso acontece porque em 2013 a Hot Wheels lançou em sua linha básica a mais fantástica nave de ficção científica de todos os tempos: a U. S. S. Enterprise. Mesmo sendo fã de outras séries como Star Wars, é inegável a importância e a permanência de Jornada nas Estrelas no nosso cotidiano, seja com a própria Enterprise ou com sua icônica tripulação. Tirando o óbvio lado comercial, isso pode ser comprovado pelo lançamento da versão die-cast da nave que levou o Capitão Kirk, Spock, McCoy, Sulu e companhia "audaciosamente onde nenhum homem jamais esteve".
Outra coisa interessante sobre esse modelo é a sua ligação com a cidade de Marabá, que regularmente venho visitado a trabalho. Durante uma dessas viagens, mais precisamente em um domingo de chuva preso no quarto do hotel e a uma internet que caía toda hora, me surgiu a ideia de fazer um Top 5 sobre minhas naves preferidas. O texto abaixo foi justamente elaborado nesse dia e a Enterprise foi, obviamente, a primeira da lista. As outras foram a Discovery (do filme "2001, Uma Odisséia no Espaço"), a Millenium Falcon (Star Wars) e a klingon Bird of Prey, também do universo de Jornada nas Estrelas. Não cheguei escolher a quinta, mas lembro que estava entre o Star Destroyer (Star Wars) e a nave NELL, do clássico trash "Mercenários das Galáxias" (Battle Beyond the Stars, 1980). Enfim, o ciclo da Enterprise com Marabá se fechou quando, em nova visita à cidade, encontrei sua versão Hot Wheels em uma loja de brinquedos (o interessante é que ainda não a vi em Belém). Espero continuar tendo sorte quando vou para lá! Bem, chega de papo e vamos ao que interessa: a história da Enterprise!
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U.S.S Enterprise NCC-1701 2013 HW Imagination - Future Fleet Este modelo reproduz a mais nova versão da nave, que aparecerá no filme Star Trek - Além da Escuridão que estreia em breve nos cinemas. |
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Matt Jeffries |
Quando a rede NBC autorizou a produção de um episódio piloto em junho de 1964, Roddenberry começou a construir as bases desse novo universo. O problema é que ninguém, nem mesmo Roddenberry, tinha ideia de como esse universo deveria ser. A base foi então constituída em torno de uma nave, agora estelar, rebatizada de USS Enterprise, lançada no ano de 2245 sob o comando do capitão Christopher Pike (pela cronologia da série, James T. Kirk só assumiria o comando da nave em 2264), mas que fez sua estreia na televisão 279 anos antes, mais precisamente no dia 8 de setembro de 1966. Mais do que qualquer outro elemento da série, a nave simboliza tudo o que significa Star Trek, mais até do que o vulcano Spock (Leonard Nimoy), outro ícone incontestável. E tal como seus companheiros humanos (ou orgânicos), ela mudou de forma, mas nunca de nome; mudou de configuração, mas nunca de missão. Isso fez a Enterprise ser amada por milhões de pessoas, inspirando uma devoção apaixonada por mais de três décadas.
O diretor de arte Matt Jefferies foi o encarregado de criar o design da nave. “Queria que meu trabalho em Star Trek fosse o mais prático possível”, disse ele em uma entrevista. “O problema é que eu realmente não sabia por onde começar. Eu sabia apenas que a Enterprise deveria ser um divisor de águas do que imaginávamos do futuro, mas o que aconteceu essencialmente foi que o Gene [Roddenberry] me deu a tarefa de encontrar a forma que a nave deveria ter, mas eu realmente não sabia de que jeito ela seria”.
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Ring Ship |
O problema é que, na década de 1960, a marca registrada da ficção científica era o seriado “Perdidos no Espaço” (Lost in Space, 1965-1968) o que tornou, por conseguinte, a imagem mais popular das naves espaciais como sendo um disco voador. Assim, foi mais do que natural que os primeiros rascunhos de Jefferies para a nave se parecessem com um disco. Roddenberry, porém, como já foi dito, queria algo grande o suficiente para abrigar uma tripulação de duas centenas de pessoas e capaz de viajar a velocidades incríveis. Logo, Jefferies voltou à prancheta e apresentou a estranha “ring ship”, que tantas dúvidas e discussões gerou entre os fãs da série. Seu design era devido a outro cânone da série: a dobra warp, velocidade acima da luz, alcançável através de um delicado balanço de química, física, matemática e magia. Jefferies explicou: “Eu estava preocupado com do design da nave quando Gene me disse que ela seria capaz de alcançar a velocidade warp. Eu pensei, ‘Que diabos é velocidade warp?’”. Mesmo sem entender muito bem o que era isso, Jefferies imaginou que a nave deveria ter motores extremamente poderosos e, consequentemente, perigosos próximos a tripulação. Por isso eles foram instalados longe da fuselagem. Resolvida a questão dos motores, Jefferies voltou para a casco tentando muitas coisas, sempre tentando se distanciar da forma de disco voador. Foi aí que surgiu a forma de esfera. “Mas como a ideia da fuselagem acabou seguindo por outro caminho, então a esfera não funcionou. Acabei por achatá-la e voltamos ao disco! Eu desenhei a ideia e quando acabei pensei que realmente havia conseguido alguma coisa”. E ao que parece funcionou mesmo, pois “ficou melhor que outros esboços e Gene disse ‘Esse aqui parece bom’”.
Contudo, continuou Jefferies, “para mostrar a fantástica velocidade da nave, eu sabia que iríamos filmá-la apenas em tomadas rápidas. E não se pode representar a velocidade de um veículo, automóvel, avião ou o quer que seja apenas movendo o fundo. Isso simplesmente não funciona. Mais um motivo porque eu quis que o design fosse muito simples, mas imediatamente identificável. Ainda continuava com muitas suposições uma vez que não sabíamos que direção tomar. Eu fiz centenas de esboços. Gene gostava de um alguma coisa de um, de alguma coisa de outro, então eu fui vendo o que poderia fazer com eles. Utilizei muita coisa que a NASA estava trabalhando naquele momento e como sou membro da Aviation Space Writers Association e consultor ativo do Air Force Museum em Dayton, eu tive muitas fontes para utilizar”.
Mesmo tendo conseguido a forma da nave (acima), isto não foi o fim do trabalho de Jefferies. O contato com Roddenberry o fez chegar à conclusão de o espaço era um lugar extremamente perigoso, logo os engenheiros da Frota Estelar nunca poriam um maquinário importante do lado de fora da nave. Isso significava, lógico, que o casco deveria ser liso, plano e sem maiores saliências. Nem todo mundo da produção concordou com Jefferies nesse ponto, levando-o a constantemente “brigar com todos que queriam por detalhes na fuselagem”. Outra vantagem da forma lisa é que ele poderia refletir a luz, uma vez que já havia a ideia de que a nave seria branca: “Eu pensei que a atmosfera ou a falta dela no espaço poderia produzir diversos tons, e isso nos daria a chance de brincar com a luz e jogar cores na nave”. Jefferies foi ainda o responsável pelo famoso número de registro da Enterprise. “Eu queria uma numeração muito simples que pudesse ser facilmente lembrada. Tive então de eliminar os números 3, 6, 8 e 9, facilmente confundíveis. Então eu sugeri 1701, casualmente ou coincidentemente, um número que ficou muito próximo ao do registro do meu avião – NC-17740”. Após o número ter sido aprovado, Jefferies explicou que a Enterprise era o décimo sétimo tipo de nave da Frota Estelar, conhecido como Constitution Class, sendo a primeira do tipo a ser lançada.
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A primeira Enterprise durante uma filmagem. |
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